Tragédias, mas também registros de momentos bons, descontraídos, algumas curiosidades, tudo isso pula aos olhos nas fotografias da mostra “Testemunha Ocular”, que o Senac Lapa Scipião exibe a partir de hoje para o público. A exposição, que apresenta 682 imagens realizadas por fotojornalistas da Associação dos Repórteres Fotográficos do Estado de São Paulo (Arfoc), é uma retrospectiva dos últimos dez anos, um panorama de fatos e cliques espontâneos que reavivam a nossa memória recente. “Os anos passam e as questões continuam as mesmas, como violência, enchente, corrupção e meio ambiente, por exemplo”, diz o curador da mostra, João Kulcsár.
O olhar crítico e ágil do fotojornalista o diferencia dos outros fotógrafos conceituais, como diz Kulcsár. Aliado ainda a essa característica há o fato de que as imagens realizadas por repórteres fotográficos são “mais populares e fáceis para as pessoas”, o que faz da mostra, enfim, uma contribuição para “uma forma de alfabetização visual”. “Os fotojornalistas são nossa memória do País e da sociedade e deveria ser dado mais valor a essa missão”, afirma Kulcsár. A exposição, assim, é um apanhado de fotografias que foram destaques, entre 2000 e 2010, em jornais e revistas do Brasil de peso, como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, Veja e Época, entre outros, e as veiculadas por agências.
Todo ano a Arfoc-SP, presidida por Paulo Whitaker, promove uma retrospectiva com obras de seus associados, e desta vez, em parceria com o Senac, a entidade apresenta um panorama bem mais amplo, de uma década. Do total de imagens selecionadas para a exposição, 105 estão apresentadas em painéis, impressas em diferentes formatos e reunidas nos núcleos temáticos Conflitos, Meio Ambiente, Esporte, Política e Cidades. “Usamos o conceitos dos cadernos de jornais, por áreas”, diz João Kulcsár. Já as mais de 500 outras fotografias escolhidas para a mostra são exibidas por meio de projeção multimídia.
Sem dúvida, um dos grandes destaques da mostra é a imagem de 2004, realizada pelo fotógrafo José Francisco Diório – ou J.F. Diório, como consta em seus créditos -, da Agência Estado, que registrou uma menina cabisbaixa durante um incêndio na favela do Buraco Quente, na zona sul de São Paulo. A obra recebeu o prestigiado prêmio World Press Photo.
A famosa imagem do incêndio na favela da Avenida Washington Luis junta-se a tantas outras fortes e impactantes, que revelam tragédias inevitáveis ou não. “As enchentes são as mesmas desde o início do século 20 e vemos que questões básicas de cidadania não são tratadas adequadamente pelo poder público”, analisa o curador. Sendo assim, a exposição “Testemunha Ocular” dá peso aos núcleos dos Conflitos e das Cidades, chamando a atenção para a necessidade de conscientização para os problemas de cidadania.
A mostra, futuramente, vai passar por outras unidades do Senac, entre elas, do interior de São Paulo. A exposição, ainda, promove debate aberto ao público na segunda-feira, às 19h15, com a participação do editor de fotografia da Folha de S. Paulo, João Wainer, e com Juca Martins, da Agência Olhar Imagem.
Testemunha Ocular – Senac Lapa Scipião (Rua Scipião, 67, Guia da Lapa). Telefone (011) 3475-2200. 9h/ 21h (sáb., 9h/ 16h; fecha dom. e 2ª). Até 27/11.
Fonte: Agência Estado